Há alguns anos atrás o saudoso Renato Russo, do grupo Legião Urbana, compôs essa atemporal música “Tempo Perdido”. Seus sucessos continuam a provocar a todos nós com seus conceitos que, à época, pareciam tão controversos.
Nessa composição, logo na primeira estrofe, Renato Russo diz:
“Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo”
Como pode algo ser inexistente (“não tenho mais o tempo que passou”) e continuar existindo (“mas tenho muito tempo … todo o tempo do mundo”)? Em 1986, quando Renato escreveu essas palavras, possivelmente o seu significado se perdia no ritmo da melodia que contagiava a todos que a ouviam. Mas hoje, quando a ouvimos não há como não refletir que sim, as frases podem parecer opostas, mas na verdade são complementares.
Como não observar que um bebê recém-nascido hoje é milhões de vezes mais “antenado” que um bebê nascido há vinte ou trinta anos atrás? Como não perceber que a cada dia sentimos o tempo voar mais e mais?
Simples!! Arrisco dizer que o tempo “didático” que conhecemos – esse dia de 24 horas, essa hora de 60 minutos, esse minuto de 60 segundos – continua o mesmo. O que está se alterando é nossa percepção da passagem de tempo. O que tem nos comprometido é a nossa inabilidade em gerir adequadamente o limite físico de tempo de que dispomos.
Existem muitas teorias que prometem nos ajudar na gestão desse “senhor tão temido”. Mas, quando nos deparamos com grandes catástrofes e desastres, naturais ou não, com muitas perdas, aí sim começamos a ver como o tal “tempo” é efêmero, decisivo, implacável.
Basta um único segundo para que uma decisão, que aparentemente era a mais acertada, se tornar uma verdadeira catástrofe. Basta um único momento de incerteza para transformar uma vida inteira. E o reverso dessa moeda também é verdadeiro, pois basta um segundo de atraso para evitar a perda da vida, a mudança de vida, a definição esperada.
O final do ano já nos convida a refletir sobre futuro, planos e mudanças. Mas quantos de nós, real e verdadeiramente, “perderemos tempo” nessa reflexão que pode sim, significar uma mudança completa de rumo.
Mais que isso, quantos de nós teremos CORAGEM de parar e refletir o real significado da palavra tempo? Quantos de nós investiremos tempo (e não perderemos tempo) para seguir um rumo mais adequado, mais importante, com mais significado, com mais sentido?
Para os profissionais que, como eu, acreditam que sua missão de vida é contribuir com pessoas, penso que essa reflexão vale muito a pena. Talvez, só talvez, em muitas situações investimos nosso tempo em ações que trarão pouco ou nenhum resultado.
Certa vez, ao ouvir a expressão “O TEMPO É ATEMPORAL” pensei que possivelmente a pessoa que a proferiu não tinha muita sanidade mental. E lá se vão alguns anos. Qual não foi minha surpresa quando me vi pensando, melhor que isso, acreditando que realmente o TEMPO É ATEMPORAL.
Outro dia meus filhos nasciam. Hoje os vejo tocando as próprias vidas de maneira independente. Como não vi o tal de “tempo” passar tão rápido assim.
Época excelente para pararmos no tempo, por alguns segundos que seja, e refletir sobre os rumos de nossas vidas.
O que acha? Faz sentido?
Então PARA tudo, ouça na essência a música de Renato Russo e veja o que acontece.
Até a próxima.