Na semana passada nos vislumbramos com uma situação das mais angustiantes de novo: as eleições para Presidente dos Estados Unidos. Vimos pessoas comemorando. Pessoas com uma tristeza profunda. Pessoas com uma indiferença gritante. Um mesmo cenário que vivenciamos aqui no Brasil em um passado bastante recente.
Apesar dos documentários e reportagens que abordavam o tema, o que mais me chamou a atenção, foi a dificuldade com que a maioria trabalhou a competência emocional. Famílias e amigos entraram em verdadeiros embates pessoais e nas redes sociais, vimos todo o tipo de xingamento e distrato a povos, opção de vida, raças e etnias. Sem contar os “especialistas políticos internacionais” que traçaram cenários de desgraça mundial caso um ou outro resultado se confirmasse.
Fiquei imaginando o porquê desse cenário tão descabido. A única conclusão a que cheguei é que, na verdade, na verdade mesmo, o real motivo de tal comportamento, só pode ser explicado pela dificuldade das pessoas em assumir seus verdadeiros interesses. O “olhar para dentro” mostra que as pessoas sentem muito receio nas suas escolhas e opções.
Nesse processo eleitoral (e em todos os outros que acontecem) muito se falou em mudança. Sempre há um dos candidatos que se auto intitula como a promessa de mudança. O que os candidatos não se apercebem é que é justamente essa palavra, MUDANÇA, que assusta às pessoas.
Será que queremos realmente mudar? Quantos, lá nos Estados Unidos também, dias antes das eleições, apregoaram, quase se comprometendo que se mudariam de país se candidato A ou B ganhasse a disputa, e quantos efetivamente irão sair do país, ou deixar de trabalhar ou seja lá o que tenham divulgado. Fácil responder: POUCOS, MUITO POUCOS, talvez, quase sem medo de errar, NENHUM.
Se pararmos para pensar, em várias situações de treinamento falamos em mudar o processo, mudar o comportamento, mudar isso ou aquilo. Vemos frequentemente instrutores e mais instrutores falando em “sair da zona de Conforto” para atingir a mudança. E isso assusta, assusta não, ATERRORIZA a todos nós.
Tenho trabalhado com meus grupos justamente o contrário: fiquemos na nossa ZONA DE CONFORTO para atingir a mudança. Na realidade, penso que temos é que sair da ZONA DE ACOMODAÇÃO. Essa sim nos incapacita, nos tolhe, nos paralisa.
Muitos tem medo da mudança porque não sabem o que esperar desse processo. Por vezes sequer sabem ou reconhecem o momento atual. Então, pergunto, como esperar algo melhor se seu padrão comparativo não existe? Como imaginar algo diferente se não sabemos ao certo aonde estamos?
Deixe-me exemplificar ao que me refiro: em outubro de 2013, em certa noite, enquanto ministrava minhas aulas para um curso técnico, ouvíamos, passando pela porta da escola, um grupo enorme de pessoas (talvez milhares delas) gritando a famosa frase “VEM PRA RUA”. Todos se lembram ao que me refiro, certo? Claro que a moçada em aula logo questionou: “Professora, deixa a gente sair com a passeata? ”.
Rapidamente, até para aproveitar o momento, permiti com uma condição: ‘Ok, Pessoal. Se houver alguém aqui que consiga me explicar exatamente e em detalhes, o motivo das reivindicações eu deixo vocês acompanharem a manifestação. ’
Depois de um silêncio quase sepulcral, consegui seguir com minha aula. Detalhe: estávamos em uns 30 alunos e NINGUÉM arriscou um “palpite”. Situações similares vem acontecendo também atualmente, com passeatas, paralisações, protestos em todos os lugares do mundo, muitos deles sem ao menos as pessoas entenderem as reais bases de suas reivindicações.
E de novo ressalto que a mudança, para ser real, é um processo que nos leva de um ponto atual para um desejado. Mas, se não reconhecemos o momento da partida, fica difícil iniciarmos qualquer tipo de jornada.
Faz sentido?
É como vimos o Gato dizer no filme “Alice no País das Maravilhas”:
Para quem não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve!
Vale a reflexão e até a próxima!